Substituta na comarca de Xinguara, a juíza Ana Carolina Barbosa Pereira, horas depois de correr a notícia exclusiva no blog do Zé Dudu ( https://www.zedudu.com.br ) de que havia encaminhado contundente e gravíssima carta à presidência do Tribunal de Justiça do Pará, pedindo exoneração do cargo, retrocedeu à decisão e ingressou com pedido de licença médica. Jovem e sem conhecer os desafios impostos a quem se propõe a levar justiça em regiões onde grassa a corrupção, as ameaças de supostos poderosos e até mesmo a arrogância de um promotor e de advogado cujo nome ela não declina na carta, Ana Carolina foi aconselhada por amigos e magistrados a repensar sua atitude.
O Ver-o-Fato publica abaixo a carta da juíza e o documento posterior enviado ao TJ, no qual ele se licencia para tratamento de saúde:
"Não nasci pra ser juiz. Não no Pará. Não dessa forma. Não nasci pra ver advogado ameaçar juiz e este receber como conselho
da Corregedoria de seu Tribunal a declaração de suspeição. Não nasci pra
ver Promotor faltar a mais de 30 audiências no mês e absolutamente nada
lhe acontecer. Mas se um magistrado falta um único dia para “emendar”
um feriado, é representado e punido por sua Corregedoria.
Não nasci pra ver esse mesmo Promotor agir como um louco em
audiência, mandando testemunha se calar, rindo da ignorância das pessoas
que atuam no processo – a maioria que nem sabe ler ou escrever –,
agindo com extrema misoginia e representando o juiz quando,
simplesmente, este não acoberta as suas falcatruas (e não são poucas).
Não nasci pra me ver em lista de alvos da polícia e tal fato ser
menosprezado por magistrado que se diz responsável pela segurança de
seus colegas. Até hoje espero o tal “setor de inteligência” entrar em
contato por uma suposta ameaça sofrida há mais de seis meses. Durmo a
base de remédios ansiolíticos e antidepressivos e, exclusivamente, com a
proteção de Deus.
Não nasci para ver e gravar inúmeros réus confirmando o recebimento
de propina pela Delegacia, acobertada por suposta fiança em
valor assustadoramente inferior, e absolutamente nenhuma providência ser
adotada. Nem pela Corregedoria da Polícia, nem pelo Ministério
Público, nem pelo Tribunal de Justiça, que inclusive acolheu MS de
determinado Delegado reinserindo-o na Comarca.
Não
nasci para ver juízes corruptos, alguns sendo punidos pelo CNJ,
mas NENHUM advogado ser igualmente penalizado. Somente no Pará o
corrompido é punido. O corruptor não existe. Talvez exista um Código
próprio nessa região, em que a corrupção pode ser praticada por um único
agente, que concomitantemente é ativo e passivo.
Não nasci para ver o acumular de processos importantes e ninguém dar
a mínima importância. Crianças acolhidas há anos por falta de atuação do
MPE em promover a destituição; por falta de equipe multidisciplinar e,
acima de tudo, por falta de boa vontade. Só se pensa na pomba e
circunstância de ser juiz ou desembargador. Esquece-se que, acima de
tudo, somos todos servidores públicos!
Não nasci pra ver um Tribunal apoiador de privilégios e que sequer sabe o que se passa com os juízes no interior do Estado.
Não nasci pra ver um Tribunal que só busca o cumprimento das metas do
CNJ e que não se importa nenhum pouco com a saúde emocional e segurança
de seus magistrados.
Não nasci, não me formei, não estudei para viver o que eu vivo aqui.
Imaginei que passaria por inúmeras dificuldades, até piores do que as
que passei e estou passando. Porém, imaginei um mínimo de apoio, de
consideração, de respeito.
Como nada disso aconteceu, não me resta outra saída. Estou
verdadeiramente enlouquecendo no Pará, notadamente em Xinguara, onde
atuo há dois anos sem sequer ter recebido uma única ligação da
Corregedoria ou da Presidência para fins de apoio a todas as demandas
que já foram solicitadas.
Certamente encontrarei dificuldades em outros Tribunais, em outras
profissões. Porém, o déficit civilizatório desse Estado e a corrupção
sistêmica aceita por todos são insustentáveis para quem sempre desejou
contribuir com uma sociedade melhor a partir do exercício da jurisdição.
Por todas essas razões, com uma dor enorme no peito por desistir do
meu maior sonho, FORMALIZO AQUI MEU PEDIDO DE EXONERAÇÃO, na esperança
de que leiam essa manifestação e passem a se preocupar mais com as
pessoas e com os processos, do que com os índices, metas e
pesquisas.
Como estou de atestado médico na data de hoje, 03.10, que
seria meu retorno das férias, informo que a partir de 04.10 não farei
mais parte dos quadros de magistrados do TJEPA. Registro que minha
última atuação se deu nos dias 01 e 02.10, quando coordenei o primeiro
curso preparatório para a adoção em Xinguara, mesmo ainda estando no
gozo de férias. Ana Carolina Barbosa Pereira. Xinguara, 03.10.2018.
O pedido de licença médica:
Infelizmente é isso. Tá tudo dominado!
ResponderExcluirPgj Gilberto Martins. O sr não vai instaurar processo para apurar as denúncias dessa juíza? São denúncias gravíssimas...!
ResponderExcluirMinha Prezada Juíza, Não faça isso, pois os bandidos togados e os advogados de porta de xadrez esperam ansiosamente que pessoas íntegras e de decentes como Você desistam da magistratura para que eles possam usufruir das benesses oferecidas aos que assim se portam. Avante Juíza! Existem pessoas honestas no meio dos corruptos que podem trabalhar em harmonia para promover uma limpa desses marginais.
ResponderExcluirAlguém ai falou terra sem lei?
ResponderExcluirCom a palavra o tê-jota paraense...
Carlos Mendes, pô, que soco no estômago cara... Nossa mãe!!!
ResponderExcluirJudiciário do Pará e uma vergonha! O que e magistrada relatou e tudo verdade, e ainda tem coisas piores, tanto no interior quanto na capital.
ResponderExcluirFalou, falou, falou mais não quer largar mão dos vinte e outros mil e tantos que recebe por mês e sessenta dias de férias anuais. Isso tá me cheirando “falta de jogo de cintura”. Relaxa e mete a caneta! Ou venha para outro lado do balcão passar raiva com o Judiciário lento e frouxo.
ResponderExcluirOs poderosos fazem tudo às escâncaras! Perderam o juízo. Sinto muito pela jovem JUÍZA.
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