Quando estamos dirigindo e nos
aproximamos de um cruzamento, pisamos no freio ao ver a luz vermelha do
semáforo fechando. Isso ocorre graças a uma cadeia de eventos dentro da
nossa cabeça.
Seus olhos transmitem sinais aos centros visuais no cérebro. Depois
que estes são processados, trilham o caminho até outra região, o córtex
pré-motor, onde o cérebro planeja os movimentos.
Imagine ter um dispositivo implantando na cabeça capaz de “injetar” informação diretamente no seu córtex pré-motor. Dois neurocientistas da Universidade de Rochester, no estado de Nova
York, disseram ter descoberto uma forma de introduzir informação
diretamente no córtex pré-motor de macacos.
Os pesquisadores especulam que o aprofundamento das pesquisas pode levar a implantes destinados a pessoas que sofreram derrames.
“Seria teoricamente possível evitar as áreas afetadas do cérebro,
trazendo o estímulo diretamente ao córtex pré-motor”, disse Kevin A.
Mazurek, coautor do estudo. “Isso poderia funcionar como uma ponte entre
duas áreas do cérebro impossibilitadas de se comunicar entre si.”
O Dr. Mazurek e o colega de estudo, Dr. Marc H. Schieber, ensinaram
dois macacos a jogar um jogo. Os macacos se sentaram diante de um painel
com um botão, uma maçaneta em forma esférica, uma maçaneta cilíndrica, e
uma manopla em forma de T.
Cada objeto era decorado com luzes LED.
Quando as luzes eram ativadas, os macacos tinham que tocá-las para
receber uma recompensa (no caso, um refrescante jato d’água). Se o botão
brilhasse, os macacos tinham que apertá-lo. Se a esfera brilhasse, eles
tinham que girá-la. Se a manopla em T ou o cilindro se acendessem, eles
tinham que puxá-los.
Os cientistas fizeram os animais brincarem com uma versão eletrizada.
Colocaram 16 eletrodos no cérebro de cada macaco, no córtex pré-motor.
Cada vez que os LEDs se acendiam, os eletrodos transmitiam uma fraca
corrente elétrica. Os padrões eram variados.
Conforme os macacos jogavam mais rodadas, a luminosidade dos anéis
foi diminuindo, coisa que inicialmente levou os macacos a cometerem
erros. Mas o desempenho deles melhorou.
No fim, as luzes se apagaram completamente, mas os macacos ainda eram
capazes de usar apenas os sinais dos eletrodos no cérebro para escolher
o objeto correto, manipulando-o em troca da recompensa. O desempenho
foi igual ao obtido com as luzes.
Isso indica que regiões sensoriais do cérebro, que processam a
informação do ambiente, podem ser dispensadas. O cérebro pode responder
recebendo informação diretamente, via eletrodos.
Os neurologistas sabem que a aplicação de corrente elétrica a partes
do cérebro pode fazer as pessoas movimentarem involuntariamente partes
do corpo. Mas não foi esse o efeito observado nos macacos.
O Dr. Mazurek e o Dr. Schieber excluíram essa possibilidade ao
perceber o quanto os impulsos elétricos poderiam ser breves. Basta
apenas um quinto de segundo de eletricidade para que os macacos dominem o
funcionamento do jogo sem usar as luzes. Um pulso tão breve não é
suficiente para causar movimentos involuntários nos macacos.
“O estímulo deve produzir algum tipo de percepção consciente”, disse
Paul Cheney, neurofisiologista do Centro Médico da Universidade do
Kansas.
O Dr. Mazurek e o Dr. Schieber implantaram pequenos relés de
eletrodos nos macacos. Os engenheiros estão trabalhando em implantes que
podem incluir até mil eletrodos. Talvez seja possível um dia transmitir
pacotes de informações muito mais complexas ao córtex pré-motor.
O Dr. Schieber disse que cientistas podem usar eletrodos avançados
desse tipo para ajudar pessoas com danos no cérebro. Os derrames, por
exemplo, podem destruir partes do cérebro por onde passam os estímulos
de regiões sensoriais até as regiões que tomam as decisões e enviam
comandos ao corpo.
Os eletrodos poderiam receber estímulos de neurônios
de regiões saudáveis e encaminhar essas informações ao córtex pré-motor.
O Dr. Scheiber disse, “pegamos a informação de uma parte saudável do
cérebro e a injetamos na área que nos diz o que fazer com essa
informação”. Fonte: Estadão.
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